Os sofrimentos do jovem W em terras alencarianas

Mesmo com alto grau de astigmatismo, pude avistar meu ônibus a quilômetros de distância. Saio correndo desenfreadamente como se não houvesse amanhã. E pode não haver, afinal.

Com os olhos fixos lá na frente, vou desviando dos transeuntes da calçada como um ninja. Ou melhor: um samurai. Sim, acho samurais muito melhores do que ninjas.

Prestes a atingir a velocidade da luz, visualizo o ônibus parado, para o embarque de passageiros. Entre eles uma idosa com sua mobilidade já um tanto limitada pelos incontáveis dias e noites de trabalho, estudos e muito forró, suponho.

Percebendo que estou indo ao seu encontro, o motorista olha no meu olho como quem diz: “Você não vai conseguir, otário”.

Deixando escapulir um sorriso no canto da boca, penso que já passei por tantas dificuldades nesta vida e que não será um infame daqueles quem vai me abalar hoje. Logo hoje!

Antes da senhora tirar o pé do chão e erguê-lo para subir no veículo, consigo chegar a tempo. Respiro profundamente o ar da vitória obtida após tanto esforço. Estufo o peito, o qual foi trabalhado depois de anos de arte-marcial. Um ex-atleta, né fio, cê quer mais?

Sem crédito na carterinha, no entanto, leio a placa que informa: “Só crédito eletrônico”. Com gosto amargo na boca e olhos já marejados, volto o olhar para o motorista, que fecha as portas com orgulho e se vai lentamente, como aquela pessoa pela qual você tanto sofre, mas que não te dá bola.

Sim, galera, antes mesmo de chegar ao meio dia, eu corri à toa e fui feito de trouxa por estas terras alencarianas. Muda, Brasil!

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